Xadrez, pura estratégia.

Xadrez, pura estratégia.

| Estratégia Empresarial e Inovação |

João Rego*

Recife, 17 de fevereiro de 2014.

Já apresentamos aqui as duas primeiras instâncias operativas que constituem as Capacidades Dinâmicas, ferramenta da administração estratégica voltada para o crescimento da empresa, através da inovação em ambientes de rápidas transformações tecnológicas e/ou econômicas.

A primeira instância operativa, Sentindo e Modelando as Oportunidades (Sentindo), a segunda Desenvolvendo o novo produto e, com base em um modelo de Negócio solidamente estruturado, lançá-lo no mercado (Agarrando). A terceira e última instância operativa é a capacidade da empresa em reconfigurar seu negócio, sempre que as mudanças ambientais assim demandarem, protegendo seus ativos intangíveis, suas competências e ativos complementares no sentido de continuar obtendo vantagem competitiva sustentável(Reconfigurando).

O grande desafio é que fazer isto ao mesmo tempo em que a empresa deve ter eficácia operacional em seus produtos/serviço/processos já estabelecido no mercado, demanda importante esforço gerencial. Isto porque um produto existente é resultado de vários e longos processos de investimento, pessoal qualificado, criação e aquisição de conhecimento, rotinas estabelecidas, processos de marketing e comercialização constituídos, construindo uma herança estratégica ou (path dependency), fenômeno que muitas vezes aprisiona a empresa limitando a sua capacidade de inovar para crescer.

Isto se apresenta como um paradoxo para a empresa. O sucesso inevitavelmente causará a evolução de uma herança estratégica ou trilhos estratégicos que estreitam o processo decisório da empresa condicionado a este passado de sucesso. Se não houvesse mudanças no ecossistema de negócio estas estariam em uma situação estável, e foi assim durante séculos, quando uma inovação tecnológica levava décadas para forçar a quebra de paradigmas e a construção de novas plataformas de negócio. Estamos, entretanto, vivendo uma era onde as rápidas transformações tecnológicas alteram o ambiente de negócio a uma velocidade assustadora: internet, redes sociais, smartphone e seus milhares de aplicativos, o sistema financeiro internacional globalizado até a medula. Tudo isto revolve o mercado num turbilhão de novidades que afetam nossas vidas de uma maneira tal, que apenas as novas gerações irão usufruir plenamente e compreender estes impactos. E falo aqui em uma criança de cinco anos que desde os dois ou três já começou a manipular um Ipad. São os nativos digitais, nós os migrantes digitais.

Estas transformações, do mesmo modo que afeta as pessoas, essência primeira e única do mercado, causam também impactos nos destinos das empresas.

Utilizamos o termo Operativo para traduzir que estas instâncias são funções que devem ser inseridas na cultura da empresa e, de forma sistemática e contínua, atuando em seu processo decisório, ou seja, em seu destino. Não é capacitação apenas dos líderes da empresa, uma vez que os desafios devem ser enfrentados em todos os níveis hierárquicos da mesma; estamos falando de inserção da cultura da gestão estratégica da inovação dentro de uma empresa. Trabalho, portanto, de longo prazo que exige um entrelaçamento entre consultoria, capacitação, mudança organizacional e uma prática gerencial voltada à construção das suas capacidades dinâmicas, atenuando seus riscos e garantindo vantagem competitiva de longo termo.

O Conceito Dinâmico diz respeito a um estilo de gestão capaz de dar conta dos impactos (positivos e negativos) que sofrem as empresas que atuam em ecossistema de negócio com rápidas transformações tecnológicas e/ou econômicas, como é o caso de Pernambuco e seu Novo Ciclo Econômico.

Embora muitos modelos de estratégias e inovação surjam por conta das demandas de grandes corporações multinacionais, como é o caso das Capacidades Dinâmicas de David Teece, nada impede que estes, uma vez adaptados, sejam de extrema utilidade para pequenas e médias empresas. Quando falamos de teoria em administração estamos lidando com modelos mentais daqueles que, municiados de conhecimento, dados e muita pesquisa, tentaram compreender e sistematizar certos fenômenos e comportamentos econômicos, sociais e empresariais, voltando sempre o olhar para tudo que foi construído ao longo da história.

Certamente o conceito das capacidades dinâmicas recebe influências de fontes como Schumpeter, a RBV Resource Based View e outros. O seu valor está em compreender a necessidade da empresa, se esta quiser continuar garantindo vantagem competitiva em ambientes turbulentos, em incorporar na sua cultura organizacional estas três instâncias operativas (sentir, desenvolver e reconfigurar) que constituem suas capacidades dinâmicas, que moldam a estratégia e a competitividade do negócio. Tudo isto movido por duas vertentes estruturadoras do empreendimento: a inovação e a gestão do conhecimento.

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João Rego é engenheiro, cientista político e consultor em estratégia.
É Diretor da Factta Consultoria, Estratégia e Competitividade.
É Editor da Revista Será? Opinião, crítica, artigos, ensaios e resenhas.
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