Peter Drucker em sala de aula.

Peter Drucker em sala de aula.

*João Rego

Recife, 17 de maio de 2012.

 

Leio Peter Drucker com a mesma atenção e respeito com que leio Freud, dois fundadores de duas áreas do conhecimento humano que fincaram importantes bases na produção – a administração – e na cultura – a psicanálise -, no século XX.

Na avalanche sufocante de informação em que nos perpassam diversas escolas e modismos, assim como dietas, que vêm, vendem seus livros e passam sem deixar nenhum efeito transformador, são nos clássicos onde encontro abrigo seguro para observar e assuntar o mundo, definindo que estratégia seguir.

Peter Drucker, no campo da administração, é um daqueles autores que deve ser sempre revisitado.

Em seu livro Management de 1973, em português Gestão, encontro, logo no começo, uma abordagem sobre sete pontos tentando responder a pergunta O que é Administração? Nos primeiros tópicos nos fala sobre pessoas, integração de pessoas, metas comuns e valores compartilhados; a seguir aponta para a empresa como instituição de aprendizagem e ensino, depois vem o conceito de Responsabilidade social da empresa, palavra que infelizmente tornou-se um desses clichês que todo mundo usa de forma indiscriminada para tentar encobrir – intencionalmente ou não – mais do que explicar o fenômeno.

Se a produção da riqueza tem algo que precisa ser lembrado no campo da responsabilidade social é porque sua natureza deve ser contida – não é esta função da lei? – controlada, ou no mínimo lembrada para tamponar sua irresponsabilidade social? Estamos aqui no universo do capital intrinsecamente manchado pela culpa da exploração do outro, ou seja, estamos no veio teórico e histórico das lutas dos socialistas utópicos e mais tarde do marxismo. Mas este é um assunto que retomarei em próximo artigo.

Em seu último item, no qual ele destaca como o mais importante, foi o que me chamou mais a atenção, diz Peter Drucker:

“Por fim, a coisa mais importante de lembrar a respeito de qualquer empresa é que os resultados existem apenas do lado de fora. O resultado de um negócio é um cliente satisfeito. O resultado de um hospital é um paciente curado. O resultado de uma escola é um estudante que aprendeu alguma coisa e a coloca em prática dez anos mais tarde. Dentro de uma empresa existem apenas custos.”

Com esta frase, Drucker envolve o conceito de empresa com a topologia alcançando a precisão e simplicidade dos sábios.

Ele condensou missão, valores, visão, qualidade, gestão de pessoa, gestão financeira, processos tudo num pacote só e disse isso aqui é do lado de dentro, e só produz custos; por outro lado incluiu mercado, entrega de valor, competitividade, concorrência, marketing, estratégia e disse: este é o lado de fora, é aí que existem resultados.

Fica aqui a reflexão provocativa ao nosso narcisismo de empreendedor, gestor público ou privado, orgulhosos – às vezes excessivamente –, dos saberes e práticas internas que estruturam nossas empresas.

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* João Rego é engenheiro, mestre em ciência política e tem formação em psicanálise.
Atua como consultor empresarial com o foco na pesquisa e na práxis da administração estratégica, da inovação e da gestão do conhecimento.

É Diretor da Factta Consultoria, Estratégia e Competitividade.
É Editor da Revista Será? Opinião, crítica, artigos, ensaios e resenhas.
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