|Parques Tecnológicos|
José Antonio Bertotti Júnior
RESUMO
Pernambuco adotou, nos últimos dez anos, uma forte política de atração de empresas mudando sua matriz produtiva. Atualmente, o Estado se revela como importante oportunidade para a consolidação de habitats de inovação, com destaque para os Parques Tecnológicos existentes e em implantação, como mecanismos de suporte à atração e desenvolvimento sustentável de negócios em setores dinâmicos da sua economia. A presente dissertação descreve as concepções que têm norteado as políticas públicas na área de ciência, tecnologia e inovação, e as iniciativas já tomadas para consolidar os instrumentos institucionais de apoio para fomentar a articulação entre academia, setor produtivo e governos na forma da tríplice hélice. A concepção de Parques adotada pelo Estado estimula a interação entre empresas, Institutos de Ciência e Tecnologia e Governo, de tal forma que o espaço físico do Parque Tecnológico não deve limitar a abrangência, nem da política, nem dos seus beneficiários. Além disso, enfatiza a necessidade do trato multidisciplinar dos problemas técnicos como uma necessidade para consolidar um setor industrial no Estado, que não pode ser visto isoladamente, mas sim na sua interação com diferentes cadeias tecnológicas. Procurou-se, nesta dissertação, identificar as linhas mestras da política implementada pelo Governo, setor privado e entidades do conhecimento na busca de alternativas de suporte ao Desenvolvimento Industrial do Estado, destacando-se a constituição do Sistema Estadual de Parques Tecnológicos como centro nevrálgico do Sistema Estadual de Inovação.
ABSTRACT
Pernambuco has adopted, the last ten years, a strong policy of attracting companies shifting their production matrix. Currently the state is revealed as an important opportunity to consolidate innovation habitats, with emphasis on the existing Science Parks and deployment, as mechanisms supporting the attraction and sustainable business development in dynamic sectors of its economy. This dissertation describes the concepts that have guided public policy in science, technology and innovation and initiatives already taken to strengthen institutional support tools to foster links between academia, productive sector and governments in the form of a triple helix. The design adopted by the State Parks encourages interaction between business, government and ICTs, so that the physical space of the technology park should not limit the scope or politics, or their beneficiaries. Moreover, it emphasizes the need for multidisciplinary tract of technical problems as a need to consolidate an industrial sector in the State, which can not be seen in isolation, but in interaction with different technological chains. Sought to identify the main lines of the policy implemented by the Government, Private Sector and Knowledge Entities seeking alternatives to support the State Industrial Development, highlighting the constitution of the State System of Technological Parks as the center of the State System of Innovation.
1 Introdução
No Brasil atual, o legado de inclusão social e de valorização do trabalho incorporado na política de desenvolvimento permitiu uma queda ininterrupta do índice de Gini de 2001 a 2012 (IPEA, 2012), representando uma redução das desigualdades sociais. No entanto, a necessidade de elevar os padrões brasileiros de produtividade e de competitividade precisa, desde já, direcionar o olhar das políticas públicas para a necessidade de diminuição do grau de dependência externa de nossa economia. O Brasil deve extrair conhecimento das consequências do processo de crise econômica mundial que destrói o capital existente e reformula a base produtiva introduzindo alterações na dinâmica de desenvolvimento global, criando as suas bases para um novo projeto nacional de desenvolvimento que tenha o conhecimento e a inovação como sustentáculos desse projeto.
A dependência externa brasileira, na produção de bens de capital de maior valor agregado e de intermediários, deve ser superada com base no aumento da Capacidade Tecnológica Nacional Relevante. O Brasil aumentou sua produção científica e tecnológica no que concerne à nossa articipação em publicações internacionais (SICSÚ, 2012, p. 44), mas ainda apresenta pequeno investimento por parte das suas empresas em dispêndios com Ciência e Tecnoligia, se comparado com outros países como Coreia do Sul e China (SICSÚ, 2012, p. 45). Não existe uma relação direta entre produção acadêmica e incorporação de seus frutos na forma de inovações produtivas para alavancar investimentos e dinamizar nossa economia. Precisa-se, assim, de uma política centrada na identificação de prioridades e na definição de planos e programas para o setor de ciência, tecnologia e inovação que atendam às áreas produtivas mais dinâmicas.
A mudança da matriz econômica de Pernambuco enseja uma oportunidade para o adensamento de cadeias produtivas com potencial de inovação. Diante disso, no Estado de Pernambuco está em curso a construção de políticas públicas setoriais que articulam a academia, os empresários e o Governo na forma de tríplice hélice.
Na política de ciência e tecnologia implementada em Pernambuco desde 2011, os Parques Tecnológicos estão propostos como órgãos centrais de governança da política de inovação das diferentes cadeias produtivas e são articulados por um Sistema Estadual de Parques Tecnológicos que já conta com dois deles, o Porto Digital e o Parqtel, que vem se consolidando e ganhando envergadura. Recentemente, esse número foi ampliado com a implantação de dois novos Parques, o Parque de Metal Mecânica e o Parque de Fármacos e de Biotecnologia.
2 Contexto e Tema
O Ministério da Ciência e Tecnologia, a partir de demanda da Prefeitura do Recife, contratou em 2010 o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) a fim de realizar o estudo “Inovações tecnológicas em cadeias produtivas selecionadas – oportunidades de negócios para o município do Recife (PE)”. Os trabalhos foram conduzidos por um conjunto de consultores liderados pelo Consultor Sérgio Buarque e pelo Professor Abraham Sicsú. Na primeira etapa desses estudos, foram identificadas as dez cadeias produtivas com maior potencial de inovação no Município do Recife, e aprofundados três setores, a saber: Eletroeletrônica, Farmoquímica e Indústria Criativa, quando acrescida a segunda etapa, e foram aprofundados os setores de Logística, Saúde e Serviços Técnicos Especializados, com ênfase na área de petróleo, naval e off-shore.
Em Pernambuco, a Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia do Governo de Pernambuco é a responsável pela política que articula o Sistema Estadual de Parques Tecnológicos. Dessa forma, concomitantemente com a implementação prática de uma Política de Estado para os habitats de inovação em Pernambuco, reveste-se de grande importância o ancoramento dessa política em estudos acadêmicos, que sustentem sua fundamentação teórica.
Como objetivo geral essa dissertação propõem uma governança para o Sistema Estadual de Parques Tecnológicos que oriente a política industrial de Pernambuco para atrair os centros de decisão e de desenvolvimento das principais empresas a partir da qualificação do Sistema Local de Inovação.
3 Problemática
A Secretaria de Ciência e Tecnologia de Pernambuco contratou em 2013, o Núcleo de Gestão do Porto Digital (NGPD), para elaborar um trabalho de consultoria[1] visando à construção de um modelo conceitual a ser adotado pelo Parqtel. O modelo conceitual proposto foi fruto dos debates estabelecidos com entidades representativas: do segmento empresarial; das universidades Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Universidade de Pernambuco (UPE); e dos Órgãos do Governo do Estado de Pernambuco responsáveis pela área de ciência e tecnologia e desenvolvimento econômico. Nele encontramos elementos que fundamentam a atual política para o Sistema Local de Inovação em Pernambuco.
Esse modelo conceitual, trabalhado inicialmente para subsidiar o modelo de gestão de um Parque Tecnológico específico, o Parqtel, hoje define os fundamentos e diretrizes para articular os Parques Tecnológicos Setoriais de Pernambuco. A articulação de todos os Parques pernambucanos assume a forma de um Sistema Estadual de Parques Tecnológicos, na qual cada um deles passa a ser o elemento central de governança e gestão do Sistema Local de Inovação em cada uma das cadeias produtivas para a qual o Parque está direcionado. Pernambuco já possui um Parque Tecnológico consolidado que é o Porto Digital, um segundo Parque em operação e fase de consolidação é o Parqtel, e trabalha na implantação de mais dois Parques Tecnológicos, o Parque de Metal Mecânica e o Parque de Fármacos e de Biotecnologia. O modelo conceitual proposto fundamenta a constituição do Sistema Estadual de Parques Tecnológicos de Pernambuco.
O Estado de Pernambuco não conta com um Sistema Estadual de Inovação consolidado, nesse sentido, a proposta da constituição do Sistema Estadual de Parques Tecnológicos será o elemento estruturador do Sistema Estadual de Inovação a partir do fortalecimento de três componentes complementares: o arcabouço institucional, o tecido organizacional e o território, conforme proposto no modelo conceitual de Mytelka (2000).
4 Metodologia
A construção desta dissertação teve como ponto de partida uma pesquisa bibliográfica baseada em livros, periódicos científicos, revistas especializadas, internet, jornais, teses e dissertações com dados pertinentes ao assunto.
No que tange à experiência prática de construção de PCTs, a pesquisa contou com a análise de materiais originais das ações em curso implementadas pela política estadual para PCTs no Estado de Pernambuco. Acrescentou-se a isso visitas in loco nos Parques Tecnológicos existentes, Porto Digital e Parqtel, para conhecer os equipamentos e a operação desses Parques.
Com relação às experiências internacionais, esta dissertação relatou a vivência do autor como participante de uma missão técnica e empresarial no ano de 2014 a China e a Finlândia, que teve por objetivo propiciar um contato direto com a experiência exitosa dos dois países na consolidação dos seus Sistemas Locais de Inovação.
O trabalho de pesquisa ainda incluiu uma série de entrevistas que cumpriram o objetivo de coletar impressões de dirigentes do Sistema Local de Inovação de Pernambuco sobre o papel dos Parques Tecnológicos na transformação em curso da matriz produtiva de Pernambuco, bem como dos condicionantes sociais e econômicos sobre os quais esse Sistema deve atuar.
A dissertação também se deteve em uma reflexão sobre as informações coletadas, o que culminou com um conjunto de observações e sugestões para a construção do Sistema Estadual de Parques Tecnológicos em Pernambuco. Essas observações propõem uma sistematização do modelo conceitual adotado para esse sistema de parques, além da elaboração de uma opinião sobre esse modelo.
5-Resultados Obtidos
Com base nos dados da pesquisa e na da revisão bibliográfica realizada, foi possível evidenciar que:
- Os Parques Científicos e Tecnológicos são utilizados por diversos países como um importante instrumento de desenvolvimento econômico.
- Não existe um modelo universal ou mesmo brasileiro de Parque Tecnológico.
- Os Parques Tecnológicos devem ser capazes de articular a execução de políticas públicas com atração efetiva de recursos oriundos da iniciativa privada.
- No Brasil, os Parques Tecnológicos estão contribuindo para a quebra de barreiras ainda existentes entre o conhecimento produzido nas universidades e sua aplicação prática no desenvolvimento de novos negócios.
- Os Parques Tecnológicos devem, necessariamente, primar pela qualidade do seu modelo de gestão priorizando equipes profissionais que atuem com planejamentos estratégico definido com objetivos e metas de longo prazo.
Como contribuição à consolidação da política industrial de Pernambuco, ancorada na criação de uma cultura de inovação, sugerimos as seguintes propostas:
- O Sistema Estadual de Parques Tecnológicos de Pernambuco deve atuar em consonância e de forma complementar ao Sistema Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação, atendendo às especificidades regionais e às necessidades emergentes do sistema produtivo pernambucano no que tange à inovação.
- A política industrial de Pernambuco deve fomentar a internalização da inovação como parte necessária do modelo de negócio das empresas pernambucanas, utilizando os Parques Tecnológicos como plataforma de interação com as Instituições de Ciência e Tecnologia de Pernambuco e provedores de serviços especializados para inovação.
- O espírito empreendedor e a cultura da inovação devem ser estimulados na sociedade brasileira como elementos necessários para a elevação da produtividade e da competitividade da nossa economia.
- As políticas de incentivo fiscal para atração de novas empresas para Pernambuco devem vincular a internalização no Estado dos centros de desenvolvimento dessas empresas.
6- Conclusão e Perspectivas
Conclui-se que o Sistema Estadual de Parques Tecnológicos adotado em Pernambuco contribui para a construção de um necessário Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento que tenha como cerne a elevação da competitividade e da produtividade da economia brasileira.
Os habitats de inovação são o meio de cultura para a formação de uma nova geração de empresários brasileiros capazes de identificar a inovação como o elemento motriz da atividade econômica e, a partir dessa concepção, avançar na soberania econômica da nação brasileira, cumprindo a função social da empresa baseada em negócios que valorizem o trabalho e que tenham o conhecimento como seu principal ativo.
Como sugestão para o aprofundamento do estudo realizado nesta dissertação de mestrado e para novos estudos relacionados a essa temática, apresentam-se quatro propostas:
- Com base nas entrevistas realizadas junto aos stakeholders, ampliar o universo pesquisado para obter uma amostra quantitativa das opiniões.
- Fazer um estudo comparativo entre o impacto dos Sistemas Nacionais de Inovação da China e Finlândia na política industrial daqueles países, em relação ao Brasil.
- Realizar uma análise do impacto da política de inovação e sua repercussão nas cadeias produtivas de Pernambuco.
- Construir um painel de indicadores que relacione a política de inovação e o índice de inovação das cadeias produtivas em Pernambuco.
7 – Referências Bibliográficas
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